Pais e professores devem “adiar o máximo possível o contato dos filhos com os meios eletrônicos”, sugere professor da USP

Por 23/04/2018 Gerais, Notícias

Valdemar Setzer, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo, defende que internet não é lugar para crianças

Pais e professores devem “adiar o máximo possível o contato dos filhos com os meios eletrônicos”, acredita Valdemar Setzer, professor do Instituto de Matemática e Estatística da Universidade de São Paulo. “Com crianças, isso é perfeitamente possível, é só proibir; com adolescentes, a coisa complica.”

Entre os perigos da internet e das redes sociais, uma tem ganhado destaque: a possibilidade de que a próxima geração seja introvertida, temerosa, por conta do receio da exposição extrema nas redes. Você compartilha dessa preocupação?

Sim. Mas há muitas outras razões para que os jovens se tornem introvertidos. Por exemplo, a exposição frequente a redes sociais diminui justamente a sociabilidade, devido ao vício de se conectar virtualmente e não pessoalmente. Além disso, está mais do que provado que as redes sociais provocam depressão, o que diminui o relacionamento social. A alemã Hanna Krasnova, da Universidade de Potsdam, mostrou que, curiosamente, o maior fator causador de depressão no Facebook é a inveja, pois as pessoas não colocam o que são, mas o que gostariam de ser.
Pais e professores precisam prestar muita atenção no comportamento de crianças e adolescentes. Se de repente um deles fica introvertido, pode ser uma rea­ção a bullying, que se tornou epidêmico com o uso da internet.

No seu estudo “Efeitos negativos dos meios eletrônicos”, você diz que a internet não é para crianças.

Há muitos fatores para isso, como exponho nesse artigo, fartamente documentado com citações de mais de 100 artigos científicos. Vou citar aqui três argumentos que considero irrefutáveis.

Primeiro, o perigo de dependência. Estatísticas recentes nos EUA mostraram que 52% dos jovens entre 12 e 18 anos reconhecem que são viciados na internet, isto é, não conseguem parar de usá-la. 76% dos pais acham que os filhos usam-na demais. No Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo. há um programa que dura 18 semanas, para desintoxicar crianças, adolescentes, adultos e idosos viciados em internet. O vício de internet é enormemente maior do que o de álcool, drogas, jogos e sexo.

Segundo, o perigo de predadores e de bullying. Uma sugestão que recomendo aos pais: a confecção de um contrato com os filhos, assinado por eles, especificando o que podem e o que não podem fazer na internet. Por exemplo, não devem enviar fotos, mesmo inocentes, pois um namorado(a) frustrado(a) ou um atacante de bullying pode usar um software de tratamento de imagens e, usando o rosto da vítima, espalhar fotos pornográficas com ele(a). O jovens não devem trocar mensagens com desconhecidos, só devem usar os aparelhos na presença de pais.

Terceiro, a internet apresenta um ambiente totalmente livre, mas crianças e adolescentes não devem ter liberdade total, devem ser permanentemente orientados. Usando essa liberdade, eles podem fazer acesso a coisas impróprias para a idade. Pode até ser coisa séria, mas não adequada ao amadurecimento e à cultura.

Quem deixa seus filhos crianças ou adolescentes usarem a internet ou não conhece a literatura científica mostrando os efeitos negativos dela ou, por comodismo, ignora essa literatura. Em particular, professores que incentivam o uso da internet estão cometendo um crime contra a infância e a juventude. Os jovens não vão usar a internet para fazer apenas o que os professores pedem, mas vão acabar usando-a para outros fins, com imenso perigo. Da mesma maneira, jogos eletrônicos sem violência vão acabar levando aos violentos. (Revista Educação)

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