Escolha por nota de corte pode frustrar

Por 08/09/2014 maio 3rd, 2022 Gerais, Notícias

Universidades registraram aumento de evasão devido a opções equivocadas de estudantes, que preferem curso mais fáceis de se entrar

 

Aposta do Ministério da Educação (MEC) para democratizar o ingresso no ensino superior, o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), que teve sua primeira edição em 2010, tem sido elogiado por educadores pela sua possibilidade de ampliar o acesso às universidades. No entanto, é preciso cautela na escolha do curso, pois as características do sistema podem acabar levando muitos jovens a fazer opções que se revelam frustrantes, seja pela universidade, pela cidade ou pelo curso escolhidos. Para o MEC, ainda é cedo para dizer o que acontece com o aluno em sua trajetória.
“Entrei na universidade pelo Sisu quando terminei o terceiro ano. Era muito novo e escolhi um curso e uma cidade que não conhecia bem. Como todo mundo falava que a Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) era boa, optei pelo curso de Engenharia Civil lá. Só que fui para o campus de Macaé, uma cidade que é base de operações da Petrobras, perigosa, e o campus ainda estava em construção. Não me adaptei e decidi voltar para Goiânia”, conta Gabriel Ferreira Moreira, de 19 anos. O jovem se matriculou num cursinho e pretende fazer novamente as provas do Enem para tentar entrar no curso de sua preferência, Medicina.

Algumas universidades brasileiras identificaram a evasão estudantil a partir da adoção do Sisu e levaram o assunto para instâncias superiores, como o próprio Ministério da Educação (MEC) e a Associação Nacional de Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes). Foi o que ocorreu com a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) que aderiu integralmente ao sistema em 2010 e percebeu um salto de 15% para 30% no índice de abandono na Faculdade Rural. Em janeiro deste ano a reitora da UFPE, Maria José de Sena, afirmou a um jornal de Recife que o problema não era localizado. “É nacional. Todas as universidades que integram o Sisu têm percebido mais evasão, tanto que a questão tem sido discutida com o MEC”, disse ela. Para a reitora, a maioria dos candidatos não entra no curso que tem vocação. “Como o sistema permite que ele busque vaga pela nota, termina ingressando numa graduação que não é a sua primeira ou segunda opção”. Maria José de Sena defende que o estudante se inscreva em apenas um curso e indique duas instituições e que não exista mais a consulta ao ponto de corte.

Desde 2011 adotando somente o Sisu como processo seletivo, a Universidade Federal do Ceará (UFC) também observou o crescimento da evasão. “Temos alunos que entram no curso que é possível pela nota de corte, não por afinidade. É um problema que não é fácil de controlar”, afirmou ao POPULAR o professor André Jalles Monteiro, do Departamento de Estatística da UFC.

Na universidade cearense, uma das medidas adotadas é a confirmação presencial após a matrícula, caso contrário o aluno perde a vaga.

Conforme o professor, a ausência precoce é verificada principalmente entre estudantes de outros Estados que ficam segurando vagas em cursos mais concorridos.

 

Medidas práticas tentam conter evasão

Doutor em Políticas Públicas e professor da Universidade Federal do Maranhão, Carlos Agostinho Couto, também já expôs suas considerações sobre o Sisu. “A evasão é, em si, uma coisa comum nas instituições de ensino, motivada por vários motivos, como desencanto com o curso escolhido, mudança de cidade, problemas financeiros etc., mas o Sisu tem contribuído para o aumento dessa evasão na medida em que o sistema permite fazerem-se várias chamadas, inclusive depois de o estudante já estar matriculado, levando à troca de cursos e ao abandono de vagas”. Para o professor, como o estudante opta pelo curso que sua pontuação permite e aguarda outras chamadas para tentar naquele que realmente deseja fragiliza o processo. “A concorrência real deveria estar baseada nos que pretendem mesmo cursar a faculdade desejada”.
Para André Jalles, da Universidade Federal do Ceará, analisar as mudanças provocadas pelo Sisu desde o primeiro ano na instituição foi importante para tentar minimizar a evasão. Além da confirmação presencial de matrícula, a instituição adotou duas atitudes envolvendo os próprios alunos da universidade: convidados pela UFC, estudantes de ensino médio conhecem os cursos pela ótica do corpo discente, como é feito também na UFG; e num segundo momento, depois que entram na graduação, alunos bolsistas ficam responsáveis por acompanhamento de disciplinas com maior índice de evasão, estímulo do relacionamento em grupo e repasse de informações sobre o que vão encarar no decorrer do curso.

 

Universidades querem assumir chamadas

A UFG ainda não sentiu o reflexo do Sisu no quadro de evasão. Nos três primeiros anos de adesão, entre 2011 e 2013, foram ofertadas apenas 20% das vagas e este ano, 50%, grande parte delas de licenciatura. “Só a partir de 2015, com a entrada de 100% das vagas, será possível fazer um acompanhamento do Sisu, mas é importante ressaltar que temos dificuldades de preencher as vagas de licenciatura independentemente desse sistema”, afirma a pró-reitora de Graduação da UFG em exercício, Gisele Gusmão.

A professora explica, entretanto, que no início de 2014, o Colégio de Pró-Reitores de Graduação, fez várias sugestões sobre o Sisu ao MEC. Uma delas diz respeito às chamadas dos alunos que, na opinião das instituições deveria sair da alçada do MEC e serem transferidas para as universidades. ترتيب بوكر “O Enem é em novembro, o resultado é divulgado em meados de janeiro, logo em seguida tem a matrícula nas universidades. Só depois disso é que o MEC faz a segunda chamada. Demora muito. Queremos pegar essa lista antes para chamar os alunos antes do início das aulas”, diz Gisele.

 

Dilema na escolha de casal
Lucas Guilherme Mendes Negreiros, de 19 anos, e Júlia Faipher Morena Vieira da Silva, 18, são namorados desde o primeiro ano do ensino médio no Colégio Santo Agostinho, em Goiânia. Juntos, vivem o dilema da escolha profissional. “Eu tinha dúvidas entre Direito e Medicina. No final do terceiro ano, em 2012, entrei pelo Sisu em Direito na UFRJ e Enfermagem na UFG e no vestibular normal em Direito, também na UFG. وان كارد فوري Escolhi o último”, contou Júlia ao POPULAR. Mas infeliz, ela continuou tentando. “Fiz o Enem novamente para continuar tentando Direito na UFRJ e passei no final de 2013 e no meio deste ano”. O peso no orçamento familiar e a preocupação dos pais com a segurança da jovem a mantiveram em Goiânia. Agora, com o objetivo de conhecer melhor a instituição que tanto almeja, Júlia se inscreveu no Programa de Mobilidade Estudantil da UFG e vai passar um ano dentro da UFRJ. “Vou prestar o Enem novamente e se continuar passando vou efetivar minha matricula e continuar meu curso lá”.

Dilema semelhante também vive Lucas. Primeiro, ele oscilou entre Engenharia e Medicina. “Estou no terceiro curso. Fiz Medicina por duas semanas na PUC Goiás, entrei em Engenharia Elétrica pelo Sisu na UFG e agora estou fazendo Engenharia Civil”. No final de 2013 e este ano, Lucas também entrou na UFRJ para cursar Engenharia Civil. “Cheguei a comprar passagem para fazer a matrícula, mas desisti por causa da dificuldade financeira”. Ainda insatisfeito, o namorado de Júlia está se preparando para o concurso deste ano do Instituto Militar de Engenharia (IME), também no Rio de Janeiro.
APRIMORAMENTO
“O Sisu precisa de um pouco mais de tempo para se consolidar, tenho convicção de que o sistema é democratizante no acesso à educação de nível superior. Os alunos não precisam mais se prender ao vestibular”, afirmou ao POPULAR, Adriana Rigon Weska, diretora de Desenvolvimento da Rede de Instituições Federais de Ensino Superior do MEC. Segundo ela, a pasta ainda não tem clareza se o que vem ocorrendo é evasão ou mobilidade dos alunos, que optam por outros cursos na instituição escolhida ou em outras, já que o Sisu abre essa possibilidade. برامج مراهنات
A respeito das chamadas, a diretora afirmou que ouvir as universidades é muito importante, por isso o MEC tem atuado no sentido de melhorar essa etapa do processo. “O MEC pensa em fazer a seleção com duas chamadas, mas por enquanto ainda é um estudo”, adiantou. (Malu Longo / O Popular)

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