Pensar e planejar o retorno ao ensino presencial

Por 29/01/2021 Gerais, Notícias

A administradora e pedagoga Marselha Cristina de Oliveira, que faz parte da diretoria do Sepe Goiânia, produziu um artigo para o SINEPE-MG sobre o planejamento para o retorno ao ensino presencial. Confira na íntegra o texto:

As mudanças e a inovação sempre foram desafios para qualquer instituição. Um estudo da consultoria global BCG mostrou que 85% das grandes empresas iniciaram processos de mudança na última década, mas 75% delas afirmaram que as mudanças não geraram resultados positivos. A pandemia nos obrigou a inovar, a mudar e a fazer a transformação digital em um prazo inimaginável e com eficácia. Ela, com certeza, quebrou paradigmas e tendências de pesquisa sem quaisquer tipo de previsão. O legado de todas essas mudanças ainda não podemos dimensionar. Enquanto a mudança do presencial para o ensino remoto foi uma surpresa, temos agora a oportunidade de nos planejar para o retorno gradativo das aulas presenciais. A intencionalidade desse texto é exatamente a de contribuir com esse retorno.

O retorno já aconteceu em algumas regiões do país e as experiências de cada instituição estão sendo compartilhadas para contribuir com as demais. Para pensar no retorno de forma mais clara, vamos dividi-lo em dimensões:

I) Dimensão Pedagógica

O ensino híbrido vai requerer da equipe pedagógica novas adaptações. Afinal, não temos mais o 100% presencial, nem o 100% on-line. Os ajustes passam por carga horária, por formas de inserção das crianças on-line à rotina da escola, por adaptação das estratégias pedagógicas que possam atender simultaneamente ou não aos dois públicos com suas particularidades. Nesse quesito não existe solução única para todas as escolas, nem para todos os segmentos. É importante a escola conversar com as famílias e com os docentes para encontrar o caminho que mais atenda à comunidade e à convicção pedagógica da equipe.

II) Infraestrutura

Aspectos físicos da escola precisam ser revistos. É necessário essencialmente que se façam adaptações para contribuir com soluções pedagógicas adotadas e para prevenção da contaminação e disseminação do coronavírus. Portanto, será preciso (a depender da estratégia adotada) instalação de novos equipamentos e de uma comunicação visual para reforçar medidas de prevenção, reorganização de carteiras escolares para atender ao distanciamento, instalação de dispensers de álcool em gel, reorganização de espaços coletivos, retirada de catracas, instalação de tapetes sanitizantes, acrílicos nos locais de atendimento, entre outros. Para isso, o gestor escolar pode contar com o apoio e orientação de infectologistas e consultorias especializadas.

III) Treinamentos 

As mudanças na estrutura, novos procedimentos para prevenção de contaminação, compra e obrigatoriedade de uso de novos EPIs são alguns pontos que vão requerer mudanças nos processos dos colaboradores e prestadores de serviço dentro da escola. O treinamento e apresentação detalhada das formas de profilaxia são fundamentais para esse retorno. Afinal, novidades não faltam, não é mesmo? O retorno gradativo das equipes ao presencial viabiliza que o gestor possa fazê-lo de forma mais pausada e supervisionada para garantir as correções necessárias. Uma atenção especial precisa ser destinada à equipe de limpeza que terá importante papel na prevenção de contaminação por superfícies. É necessário treiná-la para novos processos, assim como para o uso de produtos mais eficazes, alguns até então de uso apenas hospitalar.

IV) Equipe de profissionais

As medidas de prevenção e os novos ajustes pedagógicos podem requerer alterações nos tamanhos das equipes e adaptações para garantir segurança aos profissionais que são do grupo de risco. É importante que o gestor esteja atento às necessidades de remanejamento e de contratação para atender a essas novas necessidades. Os médicos do trabalho podem dar importante suporte ao gestor, assim como às equipes de recrutamento e seleção.

V) Aspectos Emocionais

Não podemos negligenciar esse importante ponto: sua equipe está emocionalmente pronta para esse retorno?

O apoio de um profissional ou um momento de conversa sobre como lidar com o medo, com o seu luto e com o luto dos alunos pode contribuir para que os profissionais da equipe possam estar motivados para todas essas mudanças. O apoio da equipe e o bem-estar psicológico será a chave para que o gestor possa superar a implantação dos novos processos e a insegurança das famílias no retorno.

VI) Aspectos legais

A pandemia trouxe aos gestores um tsunami de notas técnicas, resoluções, pareceres jurídicos e protocolos. Observar com atenção os aspectos jurídicos do direito do trabalho buscando orientações preventivas com advogados trabalhistas e médicos ocupacionais pode trazer mais segurança à instituição. A equipe de coordenadores pedagógicos precisa estar empenhada em atualizar-se com as novas resoluções, notas e orientações emitidas pelos conselhos de educação, principalmente, em âmbito estadual e municipal. Além de toda equipe de liderança estar sempre revisitando protocolos oficiais de biossegurança estabelecidos para o segmento educacional pelos órgãos de saúde. Pensando nas relações com os alunos e famílias, surgem demandas como ajustes no contrato de prestação de serviços, termos de consentimento para retorno ao presencial, atualizações de dados, etc.

VII) Alunos e famílias

O aluno é o foco de qualquer instituição educacional e é sempre pensando no seu desenvolvimento que nós estamos sempre nos reinventando. A pandemia e todas as adaptações do ensino remoto nos ensinaram que a comunicação transparente e a parceria com as famílias e os alunos fazem toda a diferença. Cada instituição tem impressa no seu DNA, a forma de cuidar e zelar dessas relações. Estar atento, comunicar bem e por vários canais são estratégias que podem garantir que todos compreendam as mudanças, estejam empenhados com as adaptações atuais e as que invariavelmente surgirão nesse processo.

Para finalizar…

O gestor escolar precisa pensar em todas essas dimensões, além de muitos outros aspectos correntes da instituição, além de considerar a imprevisibilidade do momento, a velocidade em que o ambiente impõe mudanças e necessidades de adaptação. O segredo do sucesso da gestão é sempre muito individual e alinhado às crenças da instituição, da sua história e da força do trabalho em equipe. Cada gestor escolar já pode ser considerado vencedor pela caminhada até aqui: pela resiliência e pela força de conduzir sua equipe diante de um ano sem precedentes que foi 2020. O ano de 2021 será desafiador, mas são os desafios que ampliam nossos limites e nos fazem mais fortes. Para finalizar, deixo um versículo bíblico para refletir: “Pois, quando sou fraco, é que sou forte.” (2 Coríntios, 12:10)

Fonte:

É hora de tirar as barreiras que nos impedem de mudar. Produtive, 2021. Disponível em: https://www.produtive.com.br. Acesso em: 09 de jan. de 2021.

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