Especialistas dizem o que deve mudar para que surjam mais exemplos como da estudante goiana que passou em nove vestibulares de medicina
O exemplo da estudante goiana de escola pública de Goiás, Amanda Costa da Cunha, de 17 anos, que foi destaque em vários jornais de capital ao conseguir a façanha de ser aprovada em nove vestibulares de medicina em universidades federais, desperta a questão: como multiplicar um exemplo como? E ainda: o que precisa mudar no atual sistema de estudo para que crianças e jovens tenham mais motivação para o estudo? Para achar essas respostas, O HOJE buscou opiniões e analises de especialistas em educação, todos foram unânimes em dizer que muita coisa precisa mudar ainda, para que referências como Amanda sejam mais frequentes entre os jovens de hoje.
A diretora da Escola de Formação de Professores e Humanidade da Pontifícia Universidade de Goiás (PUC Goiás), Clélia Brandão Alvarenga Craveiro, afirma que a escola se encontra em um momento de redefinição. “As famílias não têm mais tempo, além disso, há o desenvolvimento da tecnologia, e tudo isso apareceu de todos os lados e de uma vez só, por isso é preciso repensar na forma de transmitir conhecimento e interagir com os alunos”, explica.
A especialista também garante que o ensino médio ainda é um desafio, pois muitos largam a escola nesta fase. “Para despertar o interesse hoje é preciso reorganizar a forma como passar os conteúdos na escola, ou seja, uma mudança de estratégia que seja estimulante, além de uma estrutura adequada.”, diz. “Para que exemplos como de Amanda sejam frequentes, uma coisa é fundamental: A educação deve ser prioridade no Brasil”, defende.
Viver a escola
Para o professor e doutor em educação, Alcir Horácio, é necessário que o aluno viva a escola. “A formação do aluno depende do grupo social que ele vive. É preciso também valorizar os professores para que instruam com mais interesse o aluno, como acontece em países orientais. Em vez disso muitos profissionais estão se afastando por stress”, afirma. “Nem toda escola particular é boa, e nem toda pública é ruim como muitos enxergam, os alunos precisam também se esforçar e ter bons exemplos em casa e na escola. Além disso, a tecnologia deve ser usada como um método educacional”, garante o especialista. “A escola não educa, ela reproduz o conhecimento, instrui o aluno. Quem deve educar são os pais. Hoje as famílias estão com problemas cada vez mais e a escola pode ajudar, mas o aluno precisa ter uma base, para ter prazer em aprender”, completa.
Projetos
Segundo o Superintendente de projetos educacionais do ensino médio e professor Wisley Kalis, a base educacional precisa ser dada com qualidade para facilitar o processo ao chegar no ensino médio. Ele explica que a Secretaria Estadual de Educação (SEE), vem adotando ações, para ajudar nesta mudança do sistema educacional.
Um dos projetos de maior destaque é o “Programa Ensino Médio Inovador- Tecnologia Jovem com o Futuro”, que propõe uma renovação na grade das escolas. “Esse projeto que existe desde 2010 vem expandindo, e hoje 576 unidades em Goiás já fazem parte, das 620 que existem no Estado, que oferecem ensino médio”, diz ele. Além disso, ele explica que é usado tecnologia com livros didáticos. Outro modelo é o Projeto Agente Jovem de Desenvolvimento Social e Humano, voltado a jovens pertencentes a famílias de baixa renda, que capacita o estudante. “Queremos melhorar a educação, por isso estamos implantando escolas que oferecem até mesmo cursos técnicos”, conta.
Escola em Goiânia é pioneira em novos métodos
O Centro de Ensino e Pesquisa Aplicada à Educação (Cepae), que fica dentro do Campos Samambaia da Universidade Federal de Goiás (UFG), é um dos exemplos de escola pública que oferece métodos além dos convencionais. Além da disciplina e dedicação do jovem necessária conforme os especialistas, esta escola conseguiu despertar também um gosto pelo estudo, usando a tecnologia em seu favor, além de métodos usados em faculdades, desde o ensino fundamental até o ensino médio.
Para o diretor da instituição, Alcir da Silva, a tecnologia para fins pedagógicos colabora muito, ao invés de ser maléfica como muitos acreditam. Segundo ele, tudo depende da forma como é usada. “Hoje o consumo da informação é tão rápido que dispersa facilmente os estudantes. Por isso, os professores dependendo de cada matéria, tem liberdade para criar tarefas que usem celulares, computadores, para chamar a atenção dos alunos na aula e ao mesmo tempo transmitir conhecimento”, afirma o diretor.
Ele explica que no último ano o aluno deve apresentar um trabalho de conclusão de curso para uma banca avaliadora, como forma de mostrar tudo que aprendeu. “Somos pioneiros neste método”,garante. E assim, conseguiram estimular seus alunos de tal forma que os resultados são nota altas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), e no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), e altos índices de aprovação em vestibulare, sendo considerada a segunda melhor escola do Estado. (O Hoje)