Pais criticam “menino de saia”

Por 05/10/2015 abril 30th, 2022 Notícias, Sindicato

Pedagoga, no entanto, diz que livro que mostra garoto usando vestido provoca discussão importante

Sepe 02O livro Ceci e o vestido do Max, do escritor francês Thierry Lenain, publicado pela editora Companhia das Letrinhas, foi o centro de uma polêmica na internet na última semana. Na segunda-feira, uma página no Facebook postou a reclamação da mãe de um aluno sobre o livro. online casino saudi arabia No post, uma mãe questiona o que a escola particular onde o filho estuda – localizada no Setor Marista, em Goiânia – está “ensinando” aos alunos. Ela publicou uma reprodução da página 24 da publicação, onde o personagem Max usa um vestido cor-de-rosa.

Foi o suficiente para dezenas de comentários críticos e compartilhamentos – alguns internautas se identificaram como pais de alunos da mesma instituição. A turma que teve acesso ao livro é formada por crianças de 7 e 8 anos. Mais de 85 pessoas haviam curtido a postagem até a manhã de quarta-feira e mais de 50 já haviam registrado algum comentário.

Na manhã de quinta-feira, a publicação foi excluída. كأس العالم للأندية 2022 جدول Isso não evitou que a coordenação da unidade acionasse seu departamento jurídico por se achar prejudicada com a exposição.

Procurada pela reportagem, a coordenação da escola preferiu não se pronunciar oficialmente. Mas uma medida tomada foi retirar o livro do círculo de leitura semanal dos alunos, que trocam exemplares adquiridos pelos pais. A atividade é uma forma de incentivo à leitura e permite que os estudantes tenham acesso a mais títulos, segundo a escola.

O livro em questão foi levado de volta à instituição pela mãe, que reclamou da publicação a uma professora. Em seguida, foi devolvido ao pai que adquiriu o exemplar. A diretora da unidade confirma que não leu o livro e não soube dizer se os professores leram.

“Incentivo”

O teor dos comentários provocados pela publicação da foto da página 24 do exemplar, onde Max aparece em ilustração usando vestido e dançando, é de crítica a um suposto “incentivo” à homossexualidade. A editora não se pronunciou até o fechamento da edição, mas resumos destacados em sites e blogs ligados à educação e à leitura apontam que a intenção do livro é provocar uma discussão sobre estereótipos.

A pedagoga Luísa Lucena Lopes critica a forma como o conteúdo foi tratado. “A discussão é importante e não vejo qualquer problema do livro ser usado em sala de aula. O tema não é homossexualidade, mas a necessidade de se repensar a educação e as exigências da sociedade, onde a menina sempre usa rosa e o menino joga bola. Ceci é uma menina que não gosta de vestidos, mas gosta de bola. Já Max gosta de Ceci e usa o vestido para agradá-la e ganhar o prometido beijinho. Não há fantasmas nisso.”

Diante da polêmica, a mãe do aluno que levou o livro para casa comentou no mesmo post que a imagem “vazou” de um grupo de WhatsApp. Ela escreveu que sua intenção não era provocar tanta repercussão e que o assunto foi “resolvido” com a devolução do livro. A escola informou que não apresenta o gênero como tema para ser discutido em sala de aula e que veda qualquer tipo de preconceito.

Sepe 01
Abordagem deve ser feita de maneira gradual
O psicólogo Mayk da Glória entende que o gênero e a sexualidade são assuntos que devem ser discutidos em sala de aula, mas que o cenário político e religioso no Brasil inviabiliza o debate.

“Não significa que deve-se expor esse assunto para as crianças, mas apresentar de forma gradual. Começar, por exemplo, com temas do dia a dia, como as cores. O rosa é uma cor comum como o branco e o verde e crianças podem e devem brincar com o que quiserem, assim como podem demonstrar medo, raiva ou outros sentimentos que não serão taxados de nada”, argumenta.

Mayk percebe que a maioria das escolas fecha os olhos a essas questões e acaba reproduzindo uma cultura machista. “Infelizmente, a escola é o ambiente onde a criança se depara com um grande número de diferentes e onde vai sofrer o maior preconceito. Ao chegar em casa, se sente acolhido quando o assunto é a cor da pele, mas muda se o assunto é a homossexualidade.”

O psicólogo diz ainda que, se ela não se sente à vontade para falar sobre isso com professores ou pais, vai silenciar. “E o silêncio não significa a solução de um problema.”

“Cartilha não resolve”, afirma pedagogo
Presidente do Sindicato das Escolas Particulares de Goiás (Sepe-GO), o professor Flávio Castro diz que não há orientação sobre como deve ser a discussão de gênero nas escolas. “Esse é um assunto que precisa ser discutido na comunidade escolar antes de chegar às salas de aula.” Ele acrescenta que outros temas também merecem atenção, como segurança pública, conflitos familiares, saúde e escolha da profissão. “O estudante é um ser social e essas questões precisam ser discutidas em sala de aula. A definição de quando e como deve se adequar às diferentes realidades.”

O pedagogo Rodrigo Fideles Fernandes entende que não existe consenso nesse tipo de discussão e acredita que o tema não deve ser tratado como conteúdo em sala de aula. “No meu entendimento, esse é um assunto que deve ser tratado de maneira individual, respondendo aos questionamentos das crianças.” Para Fernandes, não só as questões de gênero e sexualidade, mas o preconceito com todos os diferentes. “O importante é que a escola trabalhe o combate ao preconceito para que todos se sintam aceitos com suas diferenças. Uns usam óculos, outros são gordos e outros magros.”

Para Fernandes, o respeito às diferenças deve permear as discussões. “Não como conteúdo, mas de maneira transversal. Uma cartilha não resolveria esse assunto, mas uma formação do professor para conduzir esse diálogo da melhor maneira.” Ele acrescenta que não existe regra para tratar esses assuntos. “Tudo depende do contexto, da pergunta, da realidade da escola e das crianças. Mas esse é um assunto sério e que não pode deixar de ser observado não só nas escolas, mas nas famílias.”

Ceci e Max protagonizam 4 livros em português
O autor francês Thierry Lenain tem quatro livros sobre Ceci e Max traduzidos para o português, todos publicados pela editora Companhia das Letrinhas. Um deles, Com e sem pipi, trata da diferença que Max faz de meninos e meninas. Outro livro da série se chama Ceci quer um bebê e a discussão é sobre as mesmas diferenças, só que do ponto de vista das próprias crianças.

O tema abordado em Beijinhos de Ceci é a tirania infantil. Nele, Max quer ganhar um beijinho da amiga, mas ela o deixa esperando demais. Quando ele se revolta e decide que não quer mais, ela vai atrás dele e cumpre o prometido. بطاقات ون كارد O último livro da série é o já mencionado Ceci e o vestido de Max. (Cristiane Lima – O Popular)

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