Pais lutam para que filhos não sejam rejeitados por instituições de ensino, como aconteceu com Klara, de 5 anos
Em novembro, já prevendo o que poderia ocorrer de norte a sul do país no período de matrículas, o Movimento Down lançou a campanha Escola Para Todos, voltada para a inclusão escolar de crianças com deficiência, independentemente de sua condição. Integra a campanha, a cartilha “Educação Inclusiva: o que os pais precisam saber?”, disponível gratuitamente para download no site da organização não governamental. O casal Kethuly Talline e Marcelo Pereira, pais de Klara, uma menina de 5 anos, portadora de síndrome de Down, não teve oportunidade de conferir as orientações antes de buscar uma nova escola em Goiânia para a filha. Depois de ouvir da secretária que o colégio não estava preparado para receber a menina, a mãe deixou o estabelecimento em prantos e desabafou nas redes sociais.
O caso de Klara não é único. Pelo menos um em cada 700 cidadãos nascidos no Brasil é portador de síndrome de Down, o que dá uma média de 270 mil pessoas. Apesar da ampla legislação que prevê a educação inclusiva, os desafios são constantes. “Infelizmente a rejeição em escolas públicas ainda acontece, é uma rotina. ivermectine france Já fizemos várias denúncias, mas tem coisas que são bastante sutis”, diz Ana Maria Motta, presidente da Associação Goiana de Síndrome de Down (Asdown Goiás), que conta hoje com cerca de 800 filiados. Para ela, o fato de uma escola não matricular uma menina de 5 anos, em idade de alfabetização, é ainda mais sério.
“A nossa luta é muito grande. Algumas escolas aceitam de coração aberto, mas não é o atendimento que a gente precisa. A única coisa diferente que minha filha tem é um cromossomo a mais. As pessoas pensam que uma criança com Síndrome de Down é de outro mundo, que não vai aprender e vai atrapalhar as outras. Minha filha não é uma criança doente”, enfatiza Kethuly.
Klara estudou neste ano em uma escola no Setor Campinas. Na avaliação dos pais, o rendimento não foi o esperado, por isso decidiram buscar outra alternativa. “A secretária que me atendeu disse que a escola não estava adaptada para receber crianças com Síndrome de Down. Fiquei muito chateada, estou lutando para não acontecer com outras mães”, afirmou a comerciante.
“Os pais têm que acreditar que seu filho é capaz de aprender, assim como as escolas também precisam acreditar na criança”, comentou a advogada Maria Antônia Goulart, coordenadora do Movimento Down, no lançamento da cartilha sobre educação inclusiva. Para a assistente social da Asdown Goiás, Vagna Antunes da Silva Fernandes, ainda há resistência das escolas privadas em se adequar à legislação inclusiva, o que exige cursos preparatórios específicos.
Sindicato admite que falta mais diálogo das escolas com família
Presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino (Sepe) e membro do Conselho Estadual de Educação (CEE), Flávio Roberto Castro afirma que a escola tem de receber o aluno, mas é preciso aprofundar o diálogo com a família. “A questão da inclusão é nova, estamos participando de seminários para disseminar essa política. A articulação da escola com a família é importante para que seja discutida a proposta de ensino porque cada criança precisa de atendimento específico. Uma relação é constituída de boa vontade de ambas as partes. Se uma escola não está preparada para isso, já começou errado”. ivermectin for fleas on cats Para o presidente do Sepe, a própria sociedade precisa entender melhor a política de inclusão. “Muitas vezes o aluno especial sofre preconceito por parte de colegas que não são preparados pelos pais para conviver com o diferente”.
Na rede privada, outra polêmica envolve os custos da política de inclusão. Como muitos alunos exigem um profissional para atendimento individual, alguns estabelecimentos tentam repassar esses valores para os pais. “Há um entendimento do Ministério Publico de que as escolas devem colocar na planilha de custos o atendimento dos alunos portadores de deficiência, mas não tem jurisprudência ou legislação a respeito”, diz o presidente do Sepe. Segundo ele, tanto o Sepe quanto o CEE, que tem uma resolução própria para inclusão, está à disposição para orientações ou mediações.
Na rede pública estadual o programa de inclusão existe desde 1999. Gerente de Ensino Especial da Secretaria Estadual de Educação, Lorena Resende Carvalho explica que o Estado mantém um grupo de profissionais para atender esse público. Existem hoje 9 mil alunos portadores com algum tipo de deficiência matriculados na rede pública estadual. “Temos uma equipe multiprofissional itinerante que vai às escolas oferecer orientação”, diz Lorena.
Em Goiânia, cerca de 2 mil crianças e jovens com algum tipo de deficiência são atendidos pela Secretaria Municipal de Educação (SME). 134 deles são portadores de síndrome de Down. stromectol when to take O atendimento a esses alunos é individual ou em grupos de até alunos no contraturno escolar.
No caminho da vida profissional
Hoje, pelo menos duas dezenas de portadores de Síndrome de Dow já frequentam universidades no Brasil. Dois deles estão na Universidade Federal de Goiás (UFG), um no curso de Matemática, em Goiânia, e outro no curso de Geografia, no campus de Jataí. Coordenador do Núcleo de Acessibilidade da UFG, o professor Régis Henrique dos Reis Silva explica que no âmbito da instituição o aluno com deficiência é atendido em suas necessidades, mas é como qualquer outro acadêmico. “Muitas vezes o aluno especial tem um tempo de aprendizado distinto. Em casos assim, orientamos que ele faça menos disciplinas por semestre e tenha acompanhamento pedagógico no contraturno”. Na UFG, 170 acadêmicos são portadores de algum tipo de deficiência.
Na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Goiás, existe desde 2002 o projeto A Informática como Processo Facilitador de Pessoas com Síndrome de Down (Alfadown), desenvolvido pelo Programa Educação e Cidadania (PEC), vinculado à Pró-Reitoria de Extensão e Apoio Estudantil (PROEX). O Alfadown tem a parceria da Asdown e o apoio da Superintendência de Ensino Especial da SEE. ( O Popular)