Práticas como colar nas avaliações são menos recorrentes entre os mais novos
Dentro e fora da sala de aula, crianças mais novas costumam ser mais abertas aos adultos. Esse comportamento pode ser fator de diminuição dos níveis de transgressão para os alunos mais novos.
Entre os 10 estudantes brasileiros que conversaram com o site de Educação sobre “colar” na escola, apenas os mais jovens, que ainda estavam no ensino fundamental I, afirmaram nunca ter colado.
“É muito errado [colar]. Eu nunca fiz isso e nunca vou fazer. Um amigo meu fez e a professora brigou com ele, porque ele meio que trapaceou”, conta Guilherme Brocanelli, de 9 anos.
Para a professora Ana Laura Lima, docente na Faculdade de Educação da USP e especialista em psicologia escolar, o vínculo de confiança com o professor é mais forte nesse período, em especial com o docente generalista, que fica a maior parte do tempo com a classe. Isso ajuda a criar um vínculo mais profundo com as crianças.
“Transgredir uma regra frente a uma professora principal pode ser sentido como algo impossível ou muito ameaçador. No ensino fundamental II, os alunos passam a conviver com um número maior de professores e tem oportunidade de confrontar pontos de vista”, explica.
As convenções de “certo” e “errado” passadas por pais e professores são menos aceitas conforme o aluno é mais velho e entra na fase da adolescência, onde todos os discursos passam a ser questionados. A maior parte dos alunos ouvidos se lembra da primeira experiência com cola no início dessa fase, dos 11 aos 13 anos.
“A primeira vez foi na 5ª série, foi empolgante. Eu vi todo mundo passando a resposta, aí eu falei: ‘Ah, eu também quero’”. conta Júlia*, hoje aluna do 1º ano do ensino médio.
Para os estudantes mais velhos, a proximidade com os professores favoritos muitas vezes faz com que o aluno repense práticas como a cola. Camila*, de 17 anos, admite colar com frequência, mas não em todas as matérias.
“Acho chato colar na prova da professora de português porque ela gosta muito de mim e sempre diz que eu tenho potencial. Eu prefiro me esforçar e ir mal caso eu não saiba a resposta”, explica a aluna no terceiro ano do ensino médio.
*Alguns nomes foram trocados para preservar a identidade dos entrevistados (REVISTA ESCOLA)