As férias de julho são aquela paradinha estratégica no meio do ano letivo para descansar, passear, viajar e também para recarregar as energias para o segundo semestre letivo. Mas com o distanciamento da escola, tanto os educadores quanto os alunos perdem um pouco o ritmo. Então, precisamos de uma readaptação.
No entanto, essa readaptação de agosto é diferente do acolhimento do início do ano letivo porque já temos algumas conquistas: as crianças se conhecem, estão integradas à turma, reconhecem o ambiente escolar e os funcionários, a relação professor-aluno está constituída, a rotina diária é conhecida por todos etc.
Esses pontos tornam a adaptação para o segundo semestre mais tranquila. Isso não significa, porém, que ela não seja importante ou não imponha desafios. E para fazê-la com cuidado, listei seis dicas que podem ajudar gestores e professores a fazerem o acolhimento de agosto:
Nós não somos sempre os mesmos. O comportamento das nossas crianças é influenciado por aquilo que elas vivenciam não somente no ambiente escolar, mas também fora dele. Por isso, cabe aqui o olhar atento do professor às possíveis diferenças significativas nas atitudes de seus alunos, como desinteresse, choro atípico, nervosismo, tristeza etc.
Esta aproximação precisa ser respeitosa, sem que pareça uma investigação ou um interrogatório. É melhor que o professor demonstre estar disponível aos seus alunos para que eles se sintam à vontade em procurá-lo, caso necessitem. Esse acolhimento é permanente e precisa ser foco de autoavaliação do docente: “Será que eu estou atento e disponível às necessidades das minhas crianças?”
2. Comece com calma
Voltar às aulas requer também um planejamento docente. Para os primeiros dias, recomendo ao meu grupo de professores que não proponha muitas atividades escritas. Assim, eles valorizam o diálogo e a retomada dos combinados.
A rotina precisa ser flexível, prevendo momentos de roda de conversa e interação entre a turma. É importante retomar os combinados e fazer uma avaliação com a turma para verificar se os “contratos didáticos” estabelecidos no início do ano são suficientes às realidades vivenciadas. Também é preciso perceber se os combinados dão conta das expectativas de boa convivência daquele grupo ou se precisam ser alterados ou ampliados.
3. Esqueça aquela redação clichê
Proposta de produção de texto “Minhas férias”? Nem pensar! Mais do que escrever a respeito, é preciso respeitar o espaço das crianças, para que elas abordem o tema livremente, sem cobranças. Nem todo mundo teve férias espetaculares que rendem uma boa história. Além disso, as crianças querem contar suas experiências e não transformar suas aventuras em uma prática escolarizada.
Para refletir a respeito, indico um livro do qual gosto muito que e vale a pena ser lido com a equipe docente: “Minhas Férias, Pula Uma Linha, Parágrafo”, de Christiane Gribel com ilustrações de Jean-Claude R. Alphen (editora Salamandra).
Num trecho do livro, o autor resume bem a questão: “Aqueles dois meses inteirinhos de despreocupações estavam prestes a virar 30 linhas de preocupações com acentos, vírgulas, parágrafos e ainda por cima com a letra legível depois de tanto tempo sem treino.”
4. Faça atividades diagnósticas e uma boa retomada
No que se refere à retomada dos conteúdos, após uns dias mais tranquilos para a readaptação, é recomendável que os professores insiram na rotina, gradativamente, atividades diagnósticas para verificar quais conceitos estão consolidados e quais precisam ser abordados novamente. Não dá para “continuar de onde parou”, ou seja, seguir adiante sem fazer essa retomada fundamental. Na escola onde atuo, os professores estão elaborando boas situações de revisão do que já foi ensinado no primeiro semestre.
5. Dê boas vindas aos novos alunos
A dica anterior também é bem-vinda caso alunos novos cheguem à turma, vindos de outras unidades escolares. Além disso, a classe precisa acolher essas crianças, contando sobre os combinados e a rotina diária e semanal da escola. Os professores precisam também estar atentos se os novos alunos estão interagindo em sala de aula e no recreio. Confesso ter vivenciado muitas experiências nas quais a sensibilidade das crianças foi determinante no acolhimento dos novos alunos. Elas se preocupam com isso e é ótimo!
Mas os professores e a coordenação também precisam se envolver, acolhendo os “novatos”, conversando com as famílias, incentivando-os nesse momento de dúvidas e incertezas.
6. Fique atento à Educação Infantil
No caso das crianças menores, o choro e as recusas ao sono e à alimentação podem voltar a ser frequentes. Embora onde eu trabalhe a readaptação esteja relativamente tranquila com as turmas da Educação Infantil, já vivenciei experiências nas quais parecíamos ter retornado ao mês de fevereiro!
Nessas, horas a dica é não se desesperar. É fundamental respeitar o ritmo dos pequenos, acolhê-los pacientemente, planejar atividades que já sabemos que agradam seus interesses e, em casos extremos, levantar a possibilidade de retornar aos horários flexíveis, como no começo do ano, ampliando-os aos poucos. Mas isso precisa ser discutido com a família, em uma reunião com pais, coordenadores e professores. A rotina é ainda fundamental para que as crianças se sintam novamente seguras no dia-a-dia.
E vocês, colegas, como cuidam deste momento tão singular do ano letivo? Vamos trocar nossas experiências? (Gestão Escolar)