“Eu tenho um sonho. O sonho de ver meus filhos julgados
por sua personalidade, não pela cor de sua pele.”
Martin Luther King
Há muito que a escola é considerada o cenário no qual se cultivam e se desenvolvem as primeiras aprendizagens para a vida no que concerne aos relacionamentos, amizades, descobertas e tantas outras possibilidades. Entretanto, a ambiência escolar também pode ser palco de diferentes manifestações de intolerância e preconceito.
As vítimas da discriminação têm seu desenvolvimento escolar, comprovadamente comprometido. Segundo dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Anísio Teixeira – INEP, revelou que 70% das crianças brancas conseguem concluir o ensino fundamental. Entre as negras, esse índice não passa de 30%. Um pouco mais tarde, na adolescência, a situação não é muito diferente. O analfabetismo atinge quase duas vezes mais os negros de 12 a 17 anos quando comparados com os brancos. É fato que além dos aspectos relacionados ao preconceito, as limitações impostas pela origem socioeconômica também provocam a saída precoce da escola e o ingresso prematuro nos postos informais de trabalho.
A discriminação se manifesta para muito além do racismo. Há casos de discriminação por gênero, etnia, orientação sexual, diferenças ou deficiências físicas e até mesmo por motivos religiosos. Alunos, familiares e profissionais de educação adeptos de religiões de matriz africana, como candomblé e umbanda são discriminados diariamente nas escolas brasileiras como retrata a mídia nacional. Humilhações, isolamento e violência física são algumas das situações de intolerância de um ser humano com outro.
As questões que movimentam uma série de conflitos em nossas escolas poderiam ser dirimidas se houvesse um maior investimento pedagógico na discussão das temáticas relacionadas às diferenças. Esse trabalho como já mencionei em artigos anteriores, poderia começar por se dedicar a descoberta e ao respeito pelas próprias características étnicas do aluno, pela elaboração de um relacionamento de cada ser consigo mesmo, com os mistérios da vida, com o outro, por valorizar as especificidades de sua regionalidade incluindo seu jeito de falar, sua matriz cultural, suas origens étnicas e as influências que carregam.
Ao reconhecer-se como ser uno, indivisível em sua singularidade, é maior a possibilidade de promover entre os pares o respeito e a valorização das diferenças. Nesse processo de aprendizado humano, que considero a tarefa precípua da educação formal, a compreensão das diferenças e das ricas possibilidades de desenvolvimento pleno que ela enseja é vital para conquista da sociedade democrática. Saber quem é o outro e respeitá-lo em sua singularidade é fundamental para a constituição pessoal de cada ser humano e, é o único caminho para se estabelecer bases éticas e estéticas para as trocas humanas.
“É na diferença que se estabelece a identidade”, já afirmava uma máxima da educação. Isso quer dizer que reconhecer, respeitar e valorizar as diferenças é um caminho imprescindível para a construção da identidade. Sei quem eu sou na medida em que me reconheço diferente do outro. Dessa forma, há que se cultivar espaço para o que Guatarri denomina por “heterogênese”, ou seja, “a possibilidade de nos tornarmos cada vez mais diferentes e, ao mesmo tempo, mais solidários”. Ao contemplar a riqueza da diversidade humana, estabeleço parâmetros de tolerância e aceitação ao mesmo tempo em que reconheço a singularidade de minha existência.
Márcia Carvalho é Pedagoga, Psicopedagoga
Mestra em Sociedade, Políticas Públicas e Meio Ambiente e Diretora Secretária da Fundação Ulysses Guimarães (GO)