A presença dos avanços científicos e das novas tecnologias em nosso cotidiano é cada vez mais constante e tem desencadeado numerosas e profundas mudanças tanto em nível ambiental, nos modos de vidas, quanto nas relações entre os seres do planeta. É notório que tais transformações engendram novos desafios para os quais a maioria da população não está preparada.
A concepção racionalista de ciência e de tecnologia conferiu ao ser humano a tarefa de dominar e explorar a natureza, alimentando seu vil impulso pela industrialização e pelo progresso alcançado à custa de milhares de vidas. O desenvolvimento que a princípio derrubou grandes obstáculos de tempo e espaço, hoje deixa entrever sua face mais perversa que seria a da criação de um imenso potencial destrutivo e excludente.
A exploração desenfreada da natureza e dos avanços científicos e tecnológicos não beneficiou a todos. Ao contrário, promoveu a ampliação e o domínio de poucos e a marginalização de muitos que permanecem alijados na miséria material e cognitiva. Se no plano do discurso os avanços tecnológicos proclamam a melhoria das condições de vida da população, na prática, o cotidiano revela o aviltamento dos modos de ser e de viver, sobretudo das populações desfavorecidas economicamente.
Em face das constantes inovações tecnológicas e considerando a necessidade de aumentar os índices de escolarização e investir em sua qualidade, não é possível coadunar com a privação de uma parcela significativa dos escolarizados, tanto dos conhecimentos mais atuais sobre ciência e tecnologia quanto das políticas que regulamentam esse setor.
Ao compreender mais e melhor as influências e as possibilidades da Educação Científica e Tecnológica para a formação plena e o cultivo da cidadania, fica claro que esse conhecimento dialoga diretamente com as necessidades cotidianas da população. Tal constatação requer uma abordagem desses saberes a partir de um diálogo que articule dialeticamente estudo das relações sociais em curso e os processos da ciência aplicada e da tecnologia nas dimensões coletivas e individuais.
O desenvolvimento de uma proposta de Educação Científica e Tecnológica requer muito mais que a aquisição de equipamentos de informática e a implantação de laboratórios de Ciências Naturais. Ela nasce de um exaustivo trabalho de mentes, de corpos e de sentimentos comprometidos com a construção de concepções orientadoras, com o desenvolvimento de Projetos Político Pedagógicos, com a formação continuada de professores e com o trabalho de elaboração de ferramentas voltadas para facilitar a aquisição de conhecimentos de forma crítica.
Depende ainda, da construção de um trabalho interdisciplinar e colaborativo, em que haja espaço e tempo para formulações visando a compreensão mais ampla dos temas abordados. Em que as ações estejam alicerçadas nas dimensões problematizadoras, dialógicas e colaborativas dos processos educativos e das trocas de saber, contribuindo para redirecionar o eixo prevalente da veiculação/transmissão da informação para o eixo da construção de um conhecimento comprometido com a justiça e a paz. Uma formação verdadeiramente comprometida com a ampliação das condições para o exercício da cidadania, possibilitando, assim, enfrentar os desafios impostos cotidianamente, seja no campo das ciências ou da tecnologia, ou nas diversas dimensões da vida.
Márcia Carvalho é Pedagoga, Psicopedagoga
Mestra em Sociedade, Políticas Públicas e Meio Ambiente,
Diretora Secretária da Fundação Ulysses Guimarães -Go