Nem metade dos 40,8 milhões de pessoas que já completaram o ensino médio no país pretende ingressar no ensino superior. Entre os que têm esse objetivo, só 37% planeja iniciar no ano que vem.
É o que aponta pesquisa do Instituto Data Popular sobre as aspirações da Classe C em relação ao ensino superior. O estudo foi realizado a pedido do Semesp (Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior).
A pesquisa, que é inédita, foi realizada no contexto de crise econômica e retração da oferta do Fies (Financiamento Estudantil), ocorrida a partir de 2015. Os pesquisadores ouviram cerca de 2,8 mil universitários e um grupo de 800 potenciais estudantes – com ensino médio completo, mas fora do superior. O estudo abordou pessoas com idade entre 20 e 40 anos e que pertencem à chamada Classe C (renda familiar entre R$ 1.800 a R$ 3.400).
O resultado do levantamento aponta um público potencial para o ensino superior em torno de 19 milhões de pessoas, o que representa 47% do total de pessoas já formadas no ensino médio. Cerca de 82% dessas pessoas têm renda baixa ou média.
A impressão de que a vida melhoraria com uma faculdade atinge 98% dos entrevistados, assim como 89% acreditam que só é possível progredir na vida como muito estudo. A perda de emprego, dificuldade para pagar mensalidades ou perder a bolsa são os motivos mais apontados entre esses potenciais estudantes para não começarem a estudar. “A decisão de começar a estudar ainda é muito frágil”, disse o diretor do Semesp, Rodrigo Capelato.
Mais da metade (54%) dos entrevistados esperam ingressar na universidade com auxílio do Fies. Volume parecido (55%) acredita que os cortes no programa atrapalham seus planos. Somente 44% desse público que quer fazer ensino superior tem algum planejamento financeiro para ingressar em uma faculdade.
Segundo o presidente do Data Popular, Renato Meirelles, é generalizada a impressão de que a fase econômica atrapalha os planos de ingressar no ensino superior. “Mas nem todos pensam igual”, ressalta ele, mostrando que 30% de quem quer fazer estudar acredita que a crise é um incentivo para os estudos.
O ingresso em uma universidade pública e gratuita não é uma escolha muito considerada entre os entrevistados. Somente 41% pretendem estudar em uma pública, enquanto 35% querem uma instituição privada. Para 23%, tanto faz.
Entre o público da chamada classe C que já estuda em universidade, 59% depende de bolsa de estudos ou Fies. Seis em cada dez estudantes trabalham concomitantemente com o estudos. “Temos hoje um perfil de estudantes de ensino superior mais popular do que em outros momentos”, diz Meirelles.
Melhorar o currículo é um objetivo para fazer faculdade para 71% dos atuais universitários e para 90% dos potenciais alunos. Ter ascensão social é um objetivo para 73% dos atuais e para 92% dos alunos potenciais. (Folha de São Paulo)