Você se lembra do seu primeiro professor? Talvez não, mas é inegável que ele, assim como outros educadores, tiveram um papel importante na sua formação. A figura do professor como detentor único do saber está mudando, principalmente por conta da avanço das novas tecnologias, mas a relação entre educadores e alunos continua sendo permeada pelo afeto, explica Libânia Xavier, doutora em Educação Brasileira pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio).
“O professor se sente próximo do aluno, chega a tirar dinheiro do bolso às vezes para pagar despesas. E ele consegue melhores resultados quando conquista a confiança dos jovens. A ideia do profissional que sabe tudo não se sustenta mais. O professor está mais para mediador. Com a universalização do ensino, muitas vezes o educador tem que lidar com a violência, que entra na escola. Os alunos que vivem em situação de risco não conseguem ver a escola como um espaço de ascensão social. Eles sabem que não viver muito e não serão médicos ou engenheiros. Fica difícil convencer que o ensino vale a pena”, diz a especialista.
Para Andre Sena, doutor em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e professor universitário há 12 anos, teorias humanistas e progressistas foram importantes na redefinição do papel do educador.
“O movimento da Escola Nova, que ganhou impulso na década de 30, defendia a universalização da escola pública, laica e gratuita. Até o final do século XIX e início do XX, o professor exercia um papel que confundia saber e autoridade. Era claro de onde o saber vinha e para onde ele ia. A Escola Nova rompe com essa clareza. Hoje o aluno aprende com a experiência do professor, e o professor aprende com a experiência do aluno”, ressalta Andre.
Atualmente, muitos jovens não escolhem o magistério como profissão, mas a crise ocorre por conta das condições de trabalho, e não em virtude da natureza da atividade docente, explica o professor. “Minha mãe tem um grande orgulho do filho professor. Mesmo fora da família, quando digo que sou educador, sinto que as pessoas respeitam. Os educadores ainda têm a capacidade de legitimar opiniões”.
A educação brasileira avançou no que diz respeito à universalização do ensino, mas ainda deixa a desejar no quesito qualidade. “Não conseguimos oferecer educação de qualidade para todos. Antes a escola era homogênea, tinha alunos da mesma idade e da mesma classe social, hoje é tudo misturado, o índice de repetência é grande. Não adianta chegar na escola com um projeto pronto, é preciso que criem políticas diferenciadas, vendo o que está dando certo, e ouvindo os professores”, completa Libânia. (Globo Educação)